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A Falácia da Validação Indiscriminada


A Falácia da Validação Indiscriminada - Marco Aurélio Mendes (CRP 05/31952)


Assim como em todas as áreas do conhecimento, a psicoterapia também tem os seus modismos. Isto se expressa não apenas em modelos de atendimento que se tornam repentinamente mais bacanas e modernos ou em palavras que passam a ser usadas indiscriminadamente. Uma delas é validação.

Validação diz respeito, claro, ao ato de validar alguém que, por sua vez, se refere ao ato de legitimar o indivíduo, corroborando a perspectiva, atitude ou sentimento deste. Pessoas se sentem muito bem ao serem validadas pois seres humanos são essencialmente sociais, “programados” para se conectar e buscar suporte e apoio, uns aos outros.  Em se tratando de psicoterapia, esta atitude se torna ainda mais importante pois traz alívio ao cliente e reforça o seu vínculo com o terapeuta.

Mas a validação exige cuidados. Seres humanos não possuem um self unitário. Somos múltiplos. A ideia da identidade única é uma mera ilusão criada para termos uma fantasia de coerência sobre nós mesmos. Na verdade, aquilo que chamamos de identidade é apenas o resultado destes diversos “eus” que habitam em nós, tal qual uma organização ou estado do self. Assim como em todo o caos, há também uma certa ordem reinante, pois, tendemos a ter um estado atrator, ou seja, a emular determinada organização do self mais comum, que se apresenta de forma mais frequente.

                Quando falamos em mudança, porém, estamos falando justamente na instabilidade, no acesso a novos estados, a novas organizações do self que emergem a partir do acesso à instâncias até então adormecidas naquele indivíduo. Imagine que você está com um cliente que se apresenta de forma raivosa, agressiva. O trabalho eficaz em psicoterapia, pode estar relacionado à contactá-lo com dores, tristezas, que se encontram por baixo de toda a agressividade. Imagine também que você tem um colega que te procure para supervisão e que cometeu erros que você considera graves e que precisa discutir e apontar. Acontece que o colega já chega falando algo como “eu preciso ser validado”.


Aí então vem a pergunta. Qual lado que eu preciso validar para que o processo de mudança realmente ocorra? A resposta pode te levar a uma nova visão do cliente e ajuda-lo de verdade. Se você for validar um lado da pessoa que não é saudável, não irá auxiliar na mudança. Então, decididamente, é uma boa pergunta.

É claro que não estou falando que o correto é invalidar o sujeito. Não se trata disto. Se você está com alguém que tem um lado vulnerável e que apresentou um comportamento claramente prejudicial a si e aos outros, você valida a vulnerabilidade mas não o comportamento. No caso do exemplo do colega da supervisão, você valida a insegurança da pessoa mas não o comportamento de querer ser elogiado ou validado a qualquer custo. Caso contrário, não há aprendizado pois não há dor nem desconforto.




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